Sessenta e dois anos atrás, Clint Eastwood duvidava do sucesso de um faroeste que mudaria sua carreira para sempre e o consagraria como uma lenda do cinema

A carreira de Clint Eastwood foi impulsionada em grande parte pelo enigmático Estranho Sem Nome, o personagem central do filme que deu início à lendária Trilogia dos Dólares. No entanto, quando aceitou o papel, o ator estava convencido de que o projeto estava condenado ao fracasso. No início da década de 1960, o diretor Sergio Leone buscou resgatar um gênero que estava caindo em desfavor junto ao público americano. Sua ideia era reinventar o clássico Yojimbo – O Guarda-Costas, de Akira Kurosawa, com uma versão ocidentalizada que fosse uma homenagem e, ao mesmo tempo, uma reinvenção.

Assim, Leone aceitou dirigir Por um Punhado de Dólares, mas sob o pseudônimo de Bob Robertson. O filme se tornou o modelo para o faroeste spaghetti, caracterizado por seu enquadramento incomum, longas pausas dramáticas, a presença constante de close-ups e uma abordagem da violência que se destacava fortemente das produções de Hollywood da época. Leone desafiou as convenções clássicas para estabelecer um estilo que se tornaria referência para muitos outros filmes. Com essa abordagem inovadora, Leone criou um estilo único que influenciaria o cinema por décadas a fio.

O remake, no entanto, não foi livre de controvérsias. Kurosawa iniciou uma batalha judicial nos Estados Unidos contra Leone, buscando estabelecer seus direitos sobre a obra. O cineasta japonês conseguiu obter os direitos de distribuição do filme no Extremo Oriente, onde Por um Punhado de Dólares conquistou um enorme sucesso, além de uma parte dos lucros mundiais. A disputa atrasou o lançamento do filme nos Estados Unidos, o que significou que, enquanto a Europa descobriu o filme em 1964, o público americano teve que esperar até fevereiro de 1967. Foi então que Eastwood, que já era conhecido pelos fãs de faroeste por sua atuação na série Rawhide, viu sua carreira decolar internacionalmente.

Ironicamente, Eastwood não foi a primeira escolha para interpretar o famoso cowboy taciturno. Inicialmente, Leone pensou em Eric Fleming, seu colega de elenco em Rawhide, para o papel. Fleming, no entanto, recusou, considerando o papel muito arriscado. Richard Harrison também recusou a oferta, mas recomendou Eastwood, uma indicação que mudaria o destino do filme e do próprio ator. Eastwood, que já era um nome conhecido no gênero, trouxe uma nova dimensão ao papel, tornando-o um ícone do cinema.

Em uma entrevista concedida em agosto de 2003, Eastwood revelou que, inicialmente, achou a ideia de filmar um faroeste na Itália muito estranha e esperava que o projeto fosse um fracasso. Ele só soube mais tarde que as filmagens ocorreriam na Espanha. “Achei que seria um fiasco enorme, mas vou viajar para a Itália e a Espanha. Nunca estive em nenhum desses lugares, então vai ser uma ótima experiência”, disse ele. O que finalmente o convenceu a aceitar o papel, segundo Eastwood, foi a oportunidade de estrelar uma adaptação de Yojimbo, um filme que ele admirava profundamente. “Era uma versão ocidental, um remake ocidental de Yojimbo, e eu sempre adorei Yojimbo, então foi isso que me inspirou a aceitar o projeto”, explicou.

O papel, que ele aceitou quase por curiosidade, se tornaria um dos mais icônicos de sua carreira e um marco importante no cinema mundial. O resto é história: Por um Punhado de Dólares tornou-se um clássico, abriu caminho para os outros dois filmes da trilogia – Por Uns Dólares a Mais e Três Homens em Conflito – e consagrou definitivamente Sergio Leone como o mestre do faroeste moderno. Com essa trilogia, Eastwood e Leone deixaram uma marca indelével no cinema, influenciando gerações de cineastas e atores.

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