O diretor Edgar Wright, conhecido por seus trabalhos em “Three Flavours Cornetto” (2004-2013), “Em Ritmo de Fuga” (2017) e “Noite Passada em Soho” (2021), recentemente passou por um dos momentos mais estressantes de sua carreira quando enviou o roteiro de “O Sobrevivente” para o renomado autor Stephen King. Em uma conversa virtual com o SensaCine, de Los Angeles, Wright expressou seu alívio ao saber que King “adorou” o roteiro, mas também reconheceu que essa aprovação traz uma grande responsabilidade. “Isso é uma maldição e uma bênção, porque agora temos que fazer jus ao filme que ele tem na cabeça”, disse Wright.
Wright adaptou para o cinema uma história que o marcou profundamente quando era adolescente nos anos 80 e a leu pela primeira vez. “Tivemos cerca de 25 anos de reality show. Então, foi ótimo fazer o filme com tudo o que aprendemos nas décadas anteriores”, refletiu. Ele também destacou que o filme tem um tom retrofuturista, mas com elementos que parecem mais avançados e outros que parecem ter regredido. “O cinema de gênero, em muitas ocasiões, consiste em refletir a realidade em um espelho deformado”, observou.
Quando Stephen King escreveu “The Running Man” em 1973, ele imaginou um futuro distópico nos Estados Unidos, onde a televisão tinha um poder absoluto. Nessa história, Ben Richards, um homem de classe trabalhadora desempregado, se inscreve em um reality show perigoso chamado “The Running Man” para comprar remédios para sua filha doente. O jogo é simples, mas impossível: sobreviver 30 dias sem ser morto enquanto todo mundo o caça. No papel de Ben Richards, está o ator Glen Powell, que, segundo Wright, é perfeito para o papel porque “parece um homem comum, no sentido de que você pode se identificar com ele”.
Powell também refletiu sobre como o mundo criado por King se assemelha ao nosso presente. “O mundo que King criou foi o mundo em que vivemos agora”, disse. “Pode parecer um pouco diferente, talvez a tecnologia seja ligeiramente diferente, mas na verdade fala do mesmo tipo de problemas: um sistema muito poderoso que está, de alguma forma, manipulado contra o cidadão comum, o que é uma loucura”. O ator também destacou que elementos como o “deepfake”, a forma como escolhemos nossos heróis e nossos vilões e a natureza do ciclo de notícias são muito relevantes no filme e em nossa sociedade atual.
“O Sobrevivente”, que estreou nos cinemas em 20 de novembro, não é a primeira adaptação cinematográfica da história de King, mas é a que mais se mantém fiel ao original. Arnold Schwarzenegger interpretou Ben Richards em “O Sobrevivente” (1987), um filme que se inspirou livremente no romance. Powell explicou que a história de Schwarzenegger tomou alguns desvios por questões práticas, enquanto a adaptação atual busca ser mais fiel ao livro. Wright e Powell precisaram da aprovação de King para fazer o filme, e ambos receberam elogios e apoio do autor.
Lee Pace interpreta um dos antagonistas do filme, um assassino especializado que tornará a vida de Ben Richards muito difícil. “É diferente. É como quando você veste uma fantasia de Halloween e sente que pode se permitir um pouco mais de liberdade”, disse Pace sobre atuar com o rosto coberto. Josh Brolin, por sua vez, interpreta Dan Killian, o produtor por trás de “The Running Man”, e se inspirou em produtores reais e pessoas de negócios para o papel. “São personagens necessários para mostrar o contraste do ponto fraco da sociedade”, disse Brolin.
Wright e os atores destacaram que o filme de King, escrito há mais de 50 anos, reflete problemas e questões que ainda são relevantes hoje em dia. “Quando King escreveu esta história, estava sensibilizado com a rapidez com que a sociedade pode se tornar uma espécie de espetáculo”, disse Pace. “E isso é algo que vemos todos os dias, não apenas na televisão, mas nas redes sociais, nos noticiários, em todos os lugares”. O filme “O Sobrevivente” é uma reflexão sobre a sociedade atual e a forma como podemos ser manipulados e controlados, e é uma adaptação fiel da obra de Stephen King que busca fazer jus à visão do autor.
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