A relação deFrancis Ford CoppolacomO Poderoso Chefãosempre foi marcada por ambiguidade. O filme que o levou ao Oscar e o colocou no centro da indústria não era, inicialmente, um projeto desejado. Coppola aceitou a tarefa por necessidade: ele ainda não havia emplacado um sucesso comercial e só encontrou motivação quando percebeu que poderia transformar a história em uma saga familiar, e não em um retrato simplista do crime organizado. Mesmo assim, concluir o longa-metragem da maneira que queria quase o levou ao colapso.
A produção deO Poderoso Chefãose tornou lendária. Coppola insistiu emMarlon Brando, defendeu a estética de sombras criada porGordon Willise enfrentou repetidas pressões dos executivos.
O resultado foi um triunfo: o longa-metragem venceu o Oscar de Melhor Filme, garantiu ao diretor liberdade criativa e abriu caminho para obras comoA Conversaçãoe, mais tarde,Apocalypse Now. Ainda assim, Coppola acredita que esse sucesso o desviou de seu verdadeiro caminho artístico.
Em artigo publicado pelo The New Yorker em 1997, o diretor afirmou: “O Poderoso Chefão só fez minha carreira seguir por este caminho, em vez do caminho que eu realmente queria, que era fazer trabalhos originais como roteirista e diretor. Isso inflamou tantos outros desejos.” Segundo ele, o êxito do filme o levou a sonhar com uma produtora capaz de transformar o modo como Hollywood trabalhava, inspiração que resultou na criação da Zoetrope Studios.
Mas esse impulso inicial trouxe consequências. O primeiro filme da Zoetrope,O Fundo do Coração, fracassou nas bilheterias, e Coppola reconheceu que esse tipo de ambição não existia antes deO Poderoso Chefão. “A grande frustração da minha carreira é que ninguém realmente quer que eu faça meu próprio trabalho,” lamentou.
Ao revisitar o passado, o diretor descreve o período como emocionalmente devastador. Sobre a experiência, disse ao The New Yorker: “Eu não sinto muito prazer em nada relacionado a O Poderoso Chefão. […] Foi um período terrível da minha vida. Eu tinha dois filhos pequenos e um terceiro a caminho, morava em um apartamento emprestado, e em um momento meu editor disse que nada estava bom. Foi um colapso total da minha autoconfiança, foi horrível. Fico nauseado só de pensar.”
Mesmo depois de décadas e revisões, comoO Poderoso Chefão – A Morte de Michael Corleone, Coppola carrega memórias difíceis do processo que o consagrou.















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