Lançada em março de 2023, a produção germano-austríaca “Der Fuchs” (ou “A Raposa” em tradução livre) nos transporta para um período marcado por grande turbulência: antes, durante e após a Segunda Guerra Mundial. Embora a história se centre em um indivíduo real, rapidamente percebemos que as vicissitudes que ele enfrenta poderiam ter sido compartilhadas por muitos outros soldados que viveram aqueles tempos difíceis. Se você decidir assistir a esse filme, esteja preparado para uma reflexão profunda que pode perdurar por dias.
A origem de “Der Fuchs” remonta à infância de Adrian Goiginger, quando seu bisavô compartilhava histórias de sua vida. Esses relatos deixaram uma marca indelével em Goiginger, que, ainda adolescente, decidiu que um dia iria trazer essas histórias para a tela grande. Essa paixão pelo projeto é evidente em cada frame do filme, desde a sequência de abertura, que nos mergulha em uma atmosfera de angústia, passando pelas cenas de batalha intensas e pelos raros momentos de tranquilidade e alegria em um mundo em chamas.
A autenticidade com que a história é contada é uma das principais forças do filme. Com um roteiro bem estruturado e uma direção que busca a verossimilhança, somos imediatamente engajados, tanto intelectualmente quanto emocionalmente, no mundo que nos é apresentado. Isso se deve, em grande parte, ao talento dos atores, à excelência dos equipamentos utilizados na criação de cenários, veículos, armas e figurinos, bem como às belas imagens capturadas pelos diretores de fotografia Yoshi Heimrathe e Paul Sprinz. A trilha sonora, composta por Arash Safaian, reforça a atmosfera opressiva que permeia grande parte do filme, tornando a experiência ainda mais imersiva.
No centro da história está Franz, interpretado por Simon Morzé, um jovem soldado que, após chegar ao fundo do poço, encontra uma criatura que se tornará seu companheiro inesperado: uma raposa. A jornada de Franz começa muito antes de sua entrada no exército. Ele cresce em uma família pobre, como um dos nove filhos dos agricultores Streitberger. À medida que as dificuldades financeiras se agravam, seu pai toma a difícil decisão de vendê-lo a um fazendeiro rico, para quem Franz deverá trabalhar como servo.
Quando atinge a maioridade, Franz decide abandonar seu “dono” e, movido por raiva e desilusão por ter sido vendido como mercadoria, não retorna para sua família. Sem um lar ou uma perspectiva clara, ele se alista nas Forças Armadas Austríacas, onde se torna um mensageiro de campo em motocicletas. É durante esse período de caos e destruição que Franz encontra uma cria de raposa ferida e abandonada. Através de sua interação com o animal, Franz redescobre emoções que pensava ter enterrado há muito tempo, iniciando um processo de cura e autoconhecimento em meio ao horror da guerra.
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